Por Juliana Plens
Pesquisadores do Reino Unido fizeram um estudo cujo objetivo foi entender alguns dos motivos que levam a população a não ter um entendimento claro sobre o fato de que o uso de bebidas alcoólicas está associado ao risco de desenvolver e morrer por câncer.
Sabe-se que os cânceres são doenças que trazem muitos impactos pessoais e financeiros às pessoas e ao país ao qual elas pertencem. Um a cada quatro casos de câncer está relacionado ao estilo de vida, podendo ser prevenido. Dentre as causas possíveis de prevenção tem-se: tabagismo, obesidade, exposição ao sol, ocupação, agentes infecciosos e uso de bebidas alcoólicas.
O câncer é a principal causa de mortalidade no Reino Unido e problemas associados ao álcool representam um gasto de 21 bilhões de libras por ano. O álcool é responsável por 11.894 casos novos de câncer por ano no Reino Unido, afetando uma a cada duas pessoas e causando a morte de uma a cada quatro. Vários tipos de câncer como de faringe, cavidade oral, laringe, esôfago, mama, fígado e gástricos são relacionados ao uso de álcool.
Apesar de haver clareza para o público no geral sobre a associação de alguns tipos de câncer com seus fatores de risco, como, por exemplo, os cânceres associados ao tabagismo, nota-se que outros fatores de risco como o álcool e a obesidade não fazem parte do conhecimento e entendimento popular de maneira clara.
Atualmente sabe-se que o número de óbitos por cânceres associados ao tabaco vem diminuindo, ao passo que aqueles associados ao álcool estão estáveis ou até aumentando, a depender do tipo de câncer. Podem ser citados como fatores associados a essa situação: falhas governamentais em se regulamentar as propagandas em relação ao álcool; em taxar o preço das bebidas alcoólicas e em restringir a disponibilidade destas à população. Alguns exemplos dessas falhas são o enorme número de propagandas de bebidas alcoólicas que trazem celebridades enaltecendo o seu uso; as propagandas do álcool em eventos musicais e esportivos patrocinados pela indústria do álcool e falta de informações adequadas nos rótulos de produtos contendo álcool sobre sua composição e os riscos do álcool à saúde.
Outro problema que contribui para o não entendimento da população sobre a associação entre câncer e álcool está associado aos conflitos de interesse existentes por traz de organizações criadas para aumentar a responsabilidade social da indústria do álcool. Essas organizações, muitas vezes não cumprem seu papel como deveriam por estarem alinhadas aos interesses financeiros das indústrias, as quais negam, omitem e contestam as evidências sobre o risco de aumento dos casos de câncer com uso do álcool. Como exemplo temos o fato de enfocarem apenas grupos de pessoas que ingerem grandes quantidades de álcool regularmente, quando os achados atuais da literatura mostram que pequenas e moderadas ingestas de bebidas alcoólicas regularmente também estão associadas ao aumento do risco de desenvolver e morrer por câncer e quanto mais se bebe, maior o risco. Outro enfoque dado pela indústria é o de que o uso regular do álcool traz “benefícios” cardiovasculares, enquanto já há evidências robustas na literatura científica mostrando que o uso regular de álcool não apenas não promove proteção à saúde, como os riscos de desenvolver o câncer sobrepõem os benefícios cardiovasculares.
Segundo a OMS há três pontos fundamentais a serem focados na questão da associação do álcool com o câncer: o aumento da taxação ao álcool; a proibição de propagandas e a diminuição da disponibilidade do álcool à população. Alguns países como Inglaterra, Escócia e França têm investido em campanhas que visem esclarecer melhor sua população sobre o uso de álcool e os riscos à saúde, mas ainda representam pouco perto dos danos causados pelo álcool, sendo necessária a criação de muitas organizações comprometidas com políticas regulatórias efetivas associadas ao álcool, investimentos em programas de prevenção, aumento da educação sobre os riscos do uso de álcool à saúde, proibição de propagandas e desenvolvimento de setores de pesquisa ligados à indústria, e que, obviamente priorizem a saúde pública aos interesses da indústria do álcool.
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