Por Juliana Plens
A pandemia COVID-19 determinou diversas medidas restritivas às populações. Sabe-se que o confinamento, isolamento social, em especial por conta de uma pandemia, pode ter implicações importantes na saúde mental e nos comportamentos de consumo de álcool das pessoas. Esse artigo visou estudar o papel das características individuais, fatores contextuais e variáveis de saúde mental no consumo de álcool em uma população de 2.871 adultos entre 18 e 85 anos (79% mulheres), a maioria procedente da Bélgica (84,5%), recrutados por meio de um questionário de autorrelato online durante a pandemia da Covid-19. Foram avaliados dados sociodemográficos, condições de isolamento, atividade física e ocupacional, proximidade de contaminação pelo coronavírus, saúde mental (ansiedade, depressão e intolerância à incerteza) e consumo de álcool (frequência, quantidade e mudanças no padrão dos que já eram usuários de bebidas alcoólicas).
Quanto à frequência do uso de álcool, 15,4% dos participantes relataram nunca ter consumido álcool, 31,4% consumiram uma vez ou menos por semana, 31,2% consumiram de 2 a 4 vezes por semana, 14,3% quase todos os dias e 7,7% todos os dias. Em relação à quantidade, 78,3% bebiam um ou dois drinques em uma sessão; 16,7% três ou quatro; 3,5% cinco ou seis; 0,8% sete ou oito e 0,7% dez ou mais. Acerca do contexto em que houve o uso de bebidas alcoólicas: 69,4% consumiam álcool com o parceiro, 54,7% com amigos online, 25,8% sozinhos e 8,3% com amigos ao ar livre. Entre os participantes, 49,1% da população relatou consumo estável de álcool, 24,5% relatou redução no consumo de álcool desde o início do bloqueio e 26,4% relatou aumento no consumo. Dos usuários que acreditavam que seu uso de álcool havia aumentado durante o bloqueio (n = 653), 90,6% explicaram que bebiam álcool para descansar e relaxar; 48% porque tinham mais tempo do que antes; 37,4% para ficar com os amigos em redes sociais, por exemplo; 32,2% devido ao tédio; 30,4% porque estavam preocupados com a pandemia; 16,8% para estarem mais perto do parceiro e 14% em consequência de tensões com os parceiros.
Dentre os indivíduos que mais aumentaram a frequência e quantidade do consumo de álcool durante o isolamento social, encontravam-se os homens mais velhos, com ensino superior e com melhores condições de vida. Além disso, aqueles que que exercem seu trabalho em casa, têm filhos, uma maior proximidade com a contaminação pelo vírus e níveis mais elevados de ansiedade e depressão estavam em maior risco de fazer consumo aumentado dessa substância. A quantidade de uso de álcool durante o lockdown também foi maior nos homens e esteve associada à idade e proximidade da contaminação pelo coronavírus.
Concluiu-se que a pandemia da COVID-19 e o isolamento consequente a ela impactaram na mudança dos padrões de consumo de álcool da metade da população estudada. Esta pesquisa gera dados que indicam a necessidade de rápida implementação de estratégias de prevenção ao consumo de álcool no contexto de crises de saúde, dando atenção especial aos indivíduos que trabalham em casa e enfocando seus motivos e motivações no contexto específico do uso de álcool associado ao estresse.
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