K2, K9, "Spice": O que a ciência já sabe sobre os canabinoides sintéticos?
- miguelhenrique100
- há 6 dias
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Por Mariana Prete
Canabinoides sintéticos (CSs) são um grupo de substâncias que ficaram conhecidas no Brasil como K2, K9 ou "maconha sintética", mas seus efeitos farmacológicos e sua alta toxicidade demonstraram ir muito além das substâncias presentes na cannabis. CS são potentes agonistas dos receptores CB1 e CB2, que se ligam a estes receptores com afinidade cerca de 100 vezes maior do que a cannabis, e seu uso tem se expandido globalmente, principalmente entre jovens.
Um estudo de revisão sistemática conduzido por pesquisadores do grupo Previna (UNIFESP), recentemente publicado na revista "Drug and Alcohol Dependance”, seguiu as diretrizes PRISMA para identificar e analisar estudos que demonstram efeitos clínicos associados ao uso dos CSs. Foram incluídos 49 estudos publicados entre 2010 e 2022, selecionados após triagem de mais de 900 registros de bases de dados (PubMed, Embase e Lilacs), com avaliação metodológica baseada nas ferramentas do Joanna Briggs Institute (JBI).
Os achados revelam um amplo espectro de complicações clínicas, com destaque para manifestações neurológicas e cardiovasculares. Sintomas como convulsões, rebaixamento do nível de consciência, taquicardia e hipertensão foram frequentes. Também foram observadas complicações raras e graves, como infartos, acidentes vasculares encefálicos, tromboembolismo, rabdomiólise e púrpura trombocitopênica autoimune. Muitas das hospitalizações, inclusive em UTIs, ocorreram em indivíduos jovens e previamente saudáveis, sendo os efeitos dos CS frequentemente mais graves que os da cannabis tradicional.
Essas evidências apontam para a necessidade urgente de incluir a intoxicação por CSs no diagnóstico diferencial de quadros neurológicos, cardiovasculares e psiquiátricos de início agudo, especialmente em populações jovens. A escassez de testes toxicológicos padronizados agrava os desafios diagnósticos, dificultando intervenções precoces. Além disso, as constantes modificações químicas dessas substâncias dificultam seu rastreio laboratorial, exigindo dos profissionais de saúde um elevado grau de suspeição clínica.
Do ponto de vista da saúde pública, os resultados reforçam a necessidade de políticas preventivas mais robustas e de investimentos em pesquisa sobre os mecanismos de toxicidade e estratégias terapêuticas. A criação de protocolos clínicos para manejo de intoxicações por CSs e a ampliação do acesso a testes diagnósticos são essenciais. Finalmente, destaca-se a importância de estudos epidemiológicos multicêntricos e controlados, capazes de aprofundar a compreensão dos riscos e de embasar intervenções clínicas e regulatórias mais eficazes.
Para mais detalhes, acesse o artigo na íntegra: Prete MM, Feitosa GTB, Ribeiro MAT, Fidalgo TM, Sanchez ZM. Adverse clinical effects associated with the use of synthetic cannabinoids: a systematic review. Drug Alcohol Depend. 2025;272:112698. doi:10.1016/j.drugalcdep.2025.112698.

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