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Possíveis efeitos da pandemia na saúde mental da população da América Latina e do Caribe

Ansiedade e isolamento social parecem aumentar o padrão de beber durante uma ligação online e de beber antes das 5 horas da tarde


Por Rodrigo Garcia-Cerde


A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) desenvolveu uma pesquisa transversal com amostra não probabilística, no primeiro semestre de 2020, através de um questionário online ministrado em 33 países e territórios da América Latina e do Caribe (ALC) do qual participaram 12 328 pessoas). O intuito foi entender se houve alteração no consumo de álcool e de outros comportamentos durante a pandemia de Covid-19.

Os comportamentos analisados foram os seguintes: (1) socialização online com o uso de álcool, ou seja, beber durante uma ligação online; (2) uso de álcool na presença de crianças (pois há evidência de que quando adultos bebem na presença de crianças geram mais crenças ou atitudes positivas sobre álcool nelas); (3) uso de álcool antes das 5 da tarde (na literatura científica se considera que beber antes dessa hora pode ser um indicador de uso problemático do álcool); (4) e episódios de consumo excessivo de álcool, ou também chamado de “binge drinking”.

Os achados mostraram que a quarentena teve uma associação positiva com uma maior frequência de socialização online com o uso de álcool e com o uso de álcool na presença de crianças. Quer dizer, aquelas pessoas que fizeram isolamento social, tiveram maior chance de beber durante uma ligação online ou beber na presença de crianças. Por outro lado, a quarentena teve uma associação negativa com uma maior frequência de episódios de consumo excessivo de álcool, ou seja, quem fez isolamento social teve menor chance de beber excessivamente álcool. Este último achado, pode ser explicado por que, geralmente, as pessoas que fazem “binge drinking” o fazem acompanhadas presencialmente de outras pessoas, e durante a quarentena, foi mais difícil beber de maneira exagerada neste padrão mais comum que ocorre em festas.

Por outro lado as pessoas que tinham sintomas de ansiedade tiveram maior chance de fazer “binge drinking”, de beber durante uma ligação online ou de consumir álcool antes da 5 da tarde. Estes achados podem estar refletindo as consequências na saúde mental produzidas pela pandemia do COVID-19 ou o agravamento de problemas psicológicos e emocionais prévios.

Por fim, quanto maior renda tinha o participante , maior a chance que teve de realizar os comportamentos analisados. As mulheres em geral relataram menos uso de álcool antes das 5 da tarde e menos episódios de consumo excessivo de álcool durante a pandemia, sendo que os homens se constituem como uma população com maior risco de modificar estes comportamentos durante a quarentena.

Esta pesquisa é a primeira que procurou dimensionar a repercussão da quarentena no uso de álcool e na saúde mental das pessoas na América Latina e Caribe durante a pandemia de COVID-19. Diante das associações observadas, os autores recomendaram fornecer intervenções breves para o cuidado da saúde mental da população latino-americana e caribenha. Precisa-se desenvolver mais pesquisas com amostras probabilísticas para investigar com maior profundidade os resultados desde estudo.


Link: https://iris.paho.org/handle/10665.2/53908


Fonte: Garcia-Cerde R, Valente JY, Sohi I, Falade R, Sanchez ZM, Monteiro MG. Alcohol use during the COVID-19 pandemic in Latin America and the Caribbean. Rev Panam Salud Publica. 2021;45:e52. https://doi.org/10.26633/RPSP.2021.52




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