Estudo desenvolvido pela Unifesp revelou associação entre uso de inalantes e envolvimento futuro em episódios de violência escolar
Por Júlia D. Gusmões
Um estudo desenvolvido pelo grupo Previna da Unifesp analisou se o uso de drogas prediz a vitimização e perpetuação de violência escolar. O artigo foi publicado recentemente na revista International Journal of Mental Health and Addiction.
O estudo, que envolveu 6.391 estudantes de 7º e 8º anos de 72 escolas públicas de seis cidades brasileiras, evidenciou que o envolvimento anterior em episódios violentos na escola, bem como o uso de inalantes anterior ao início do estudo, previu níveis mais elevados de violência 9 meses após o início do estudo entre estes adolescentes. Além disso, as meninas apresentaram níveis mais baixos de envolvimento em violência do que os meninos.
Estes achados no Brasil estão de acordo com estudos anteriores em escolas de países desenvolvidos, indicando que o melhor preditor de violência futura é uma história de violência pregressa, independentemente de ser ocasionada ou sofrida. Uma possível explicação para esse fenômeno é que os indivíduos que têm traços pessoais de agressividade ou impulsividade, bem como dificuldades com autocontrole, são mais propensos a se envolverem em atos posteriores de agressão e violência, caso nenhuma intervenção para reduzir este padrão for fornecida a eles. Além disso, pesquisas anteriores mostraram que as vítimas de violência escolar têm uma tendência a sofrer mais vitimização mais tarde na vida. Assim, a violência escolar acaba agindo como marcador de violência futura.
Neste sentido, é crucial que programas de prevenção que visam reduzir violência escolar na primeira infância passem a fazer parte dos currículos no Brasil.
O resultado encontrado de que o uso anterior de inalantes previu mais violência é também consistente com estudos anteriores. A ingestão dessas substâncias pode causar um efeito desinibidor nos indivíduos que as utilizam, facilitando a perpetração da violência. Apesar do efeito desinibidor ser visto também para outras drogas, como o álcool, por exemplo, o que difere as duas drogas é que o envolvimento com inalantes costuma ser identificado como uma transgressão, por se tratar de uma droga intermediária do lícito ao ilícito, ou seja, considerando que o uso de álcool é muito mais prevalente e socialmente aceito, o perfil comportamental de um adolescente que utiliza álcool é diferente daquele que decide avançar e iniciar o uso também de inalantes. Por esse motivo, os inalantes podem ser considerados bons “marcadores” para o perfil comportamental de maior risco entre adolescentes, conforme discutido em um artigo da professora Zila Sanchez, que pode ser acessado aqui.
Os resultados reforçam a importância de programas e políticas de prevenção escolar abordarem simultaneamente o uso de drogas e a violência. Mais importante, o uso de inalantes deve ser considerado como um marcador para comportamento violento, independente da vivência de episódios anteriores de violência. Assim, os programas de prevenção escolar deveriam impactar no uso de inalantes para prevenir e reduzir outros comportamentos de risco. No momento, a maior parte dos programas escolares de prevenção acaba focando apenas no consumo de álcool e tabaco.
Link para o artigo completo: https://link.springer.com/article/10.1007/s11469-021-00493-3
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