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CARLINI et al. Drug and Alcohol Review, 2014.
SANCHEZ et al. Journal of Addictive Diseases, 2013.
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Maconha
O que é maconha?
Maconha são as folhas, flores, caules e sementes secas da planta “Cannabis sativa” ou “Cannabis indica”. A planta contém o THC e outros compostos químicos similares capazes de causar alterações na mente. Extratos também podem ser feitos a partir da planta da maconha.
A maconha é uma das drogas ilícitas mais consumidas entre os jovens. Ainda assim sua prevalência é baixa entre os adolescentes. De acordo com o III Levantamento Nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira (LNUD) realizado em 2015 entre aqueles de 12 a 65 anos 10% reportaram ja terem usado maconha alguma vez na vida, 3,2 no último ano e 1,7 no último mês. Entre os adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos 4% reportaram terem usado maconha alguma vez na vida, 2,3% no ultimo ano e 1,3 no último mês
Como as pessoas usam maconha?
As pessoas fumam a maconha em cigarros enrolados à mão (baseados), em cachimbos ou narguilés. Algumas pessoas passaram a usar líquidos a base de THC em vapers (cigarros eletrônicos). Um outro método utilizado é o de fumar diferentes formas de resinas ricas em THC. Além disso, algumas pessoas misturam maconha em alimentos, como brownies, biscoitos ou doces. Em alguns países, onde a maconha é liberada, há venda de doces industrializados à base de maconha, como, por exemplo, balas, pirulitos e chocolates.
Como a maconha afeta o cérebro?
A maconha traz efeitos de curto e longo prazo para o cérebro.
Efeitos de curto prazo
Quando uma pessoa fuma maconha, o THC passa rapidamente dos pulmões para a corrente sanguínea. O sangue carrega o elemento químico para o cérebro e para os outros órgãos em todo o corpo. O corpo absorve o THC mais lentamente quando a pessoa come ou bebe. Nesse caso, geralmente se sentem os seus efeitos após 30 minutos até 1 hora. O THC atua em receptores específicos de células cerebrais que normalmente reagem compostos químicos naturais do próprio corpo que são semelhantes ao THC. Esses compostos químicos naturais desempenham um papel no funcionamento habitual do cérebro. A maconha age nas partes do cérebro que contêm o maior número desses receptores, causando esse "barato" que as pessoas referem sentir.
Outros efeitos da maconha incluem:
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alterações nos sentidos (por exemplo, ver as cores mais brilhantes);
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alterações na percepção da passagem do tempo;
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mudanças de humor;
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prejuízo nos movimentos corporais;
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dificuldades em pensar e resolver problemas;
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alterações na memória;
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alucinações (em caso da ingestão de altas doses);
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delírios (em caso da ingestão de altas doses);
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psicose (o risco é maior com o uso regular de maconha de alta potência).
Efeitos a longo prazo
A maconha também afeta o desenvolvimento do cérebro. Quando as pessoas começam a usar maconha na adolescência, a droga pode trazer prejuízos para o pensamento, para a memória e as funções de aprendizagem e afetar a forma como o cérebro constrói conexões entre as áreas necessárias para essas funções. Pesquisadores ainda estão estudando por quanto tempo os efeitos da maconha duram e o quanto algumas mudanças podem ser permanentes.
Quais são os outros efeitos do uso da maconha para a saúde?
O uso de maconha pode ter uma ampla gama de efeitos, tanto físicos quanto mentais.
Efeitos físicos
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Problemas respiratórios. A fumaça da maconha irrita os pulmões e as pessoas que fumam maconha frequentemente podem ter os mesmos problemas respiratórios que aqueles que fumam tabaco. Estes problemas incluem tosse e catarro diários, doenças pulmonares mais frequentes e maior risco de infecções pulmonares. Os pesquisadores até agora não encontraram um risco maior de câncer de pulmão em pessoas que fumam maconha.
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Aumento da frequência cardíaca. A maconha aumenta a frequência cardíaca por até 3 horas depois de fumar. Este efeito pode aumentar a chance de ataque cardíaco. Idosos e pessoas com problemas cardíacos podem estar em maior risco.
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Problemas com o desenvolvimento infantil durante e após a gravidez. O uso de maconha durante a gravidez é ligado ao menor peso ao nascer e aumento do risco de problemas cerebrais e comportamentais em bebês.
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Náuseas e vômitos intensos. O uso regular e prolongado de maconha pode levar algumas pessoas a desenvolver síndrome de hiperêmese canabinóide. Isso faz com que os usuários experimentem ciclos regulares de náuseas, vômitos e desidratação graves, às vezes exigindo atenção médica de emergência.
Efeitos mentais
O uso prolongado de maconha tem sido associado a doenças mentais em algumas pessoas, como:
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alucinações temporárias;
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paranóia temporária;
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piora (ou desencadeamento) dos sintomas em pacientes com esquizofrenia – um transtorno mental grave com sintomas como alucinações, paranóia e pensamento desorganizado;
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o uso de maconha também tem sido associado a outros problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, e pensamentos suicidas entre os adolescentes. No entanto, os resultados dos estudos ainda são difusos.
Uma pessoa pode ter uma overdose de maconha?
Uma overdose ocorre quando uma pessoa usa o suficiente da droga para produzir sintomas de risco de vida ou morte. Não há relatos de adolescentes ou adultos morrendo diretamente pelo uso da maconha. No entanto, algumas pessoas que usam maconha podem sentir alguns efeitos colaterais muito desconfortáveis, especialmente ao usar produtos de maconha com altos níveis de THC. As pessoas relataram sintomas como ansiedade e paranóia e, em casos raros, uma reação psicótica extrema (que pode incluir delírios e alucinações) que pode levá-los a procurar tratamento em uma sala de emergência. Altas doses também aumentam a chance de o consumidor se expor a riscos fatais durante estes episódios, por se envolverem em comportamentos perigosos.
Embora uma reação psicótica possa ocorrer após qualquer método de uso, os socorristas de emergência têm visto um número crescente de casos envolvendo comestíveis de maconha no Estados Unidos, país em que eles são legalizados. Algumas pessoas (especialmente pré-adolescentes e adolescentes) que sabem muito pouco sobre comestíveis não percebem que leva mais tempo para o corpo sentir os efeitos da maconha quando ingerido em vez de fumado. Então eles consomem mais comestíveis, tentando ficar “chapados” mais rápido ou pensando que não tomaram o suficiente.
A maconha pode gerar dependência?
O uso de maconha pode levar ao desenvolvimento de transtorno por uso de substâncias, uma doença na qual a pessoa é incapaz de parar de usar mesmo que esteja causando problemas de saúde e sociais em sua vida. Pesquisas sugerem que entre 9 e 30 por cento daqueles que usam maconha podem desenvolver algum grau de transtorno relacionado ao uso. Pessoas que começam a usar maconha antes dos 18 anos são quatro a sete vezes mais propensas do que os adultos a desenvolver um transtorno por uso de maconha. Muitas pessoas que usam maconha a longo prazo e estão tentando parar de usar relatam sintomas relacionados a abstinência. Esses incluem:
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alterações no humor;
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insônia;
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diminuição do apetite;
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ansiedade;
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cravings (desejo intenso de uso).
Quais tratamentos estão disponíveis para o transtorno por uso de maconha?
Atualmente, não há medicamentos disponíveis para tratar o transtorno por uso de maconha, mas o apoio comportamental demonstrou ser eficaz. Exemplos incluem terapia e incentivos motivacionais (fornecendo recompensas aos pacientes que permanecem livres de drogas). A pesquisa contínua pode levar a novos medicamentos que ajudam a aliviar os sintomas de abstinência, bloquear os efeitos da maconha e prevenir a recaída.
Pontos a serem lembrados
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Maconha são as folhas, flores, caules e sementes secas da planta “Cannabis sativa” ou “Cannabis indica”.
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A planta contém o THC e outros compostos químicos capazes de causar alterações na mente.
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As pessoas usam maconha fumando, comendo, bebendo ou inalando.
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Fumar e vaporizar extratos ricos em THC da planta de maconha (uma prática chamada dabbing) está em ascensão.
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O THC superativa certos receptores de células cerebrais, resultando em efeitos como: sentidos alterados, mudanças de humor, movimento corporal prejudicado, dificuldade em pensar e resolver problemas, e memória e aprendizado prejudicados.
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O uso de maconha pode ter uma ampla gama de efeitos à saúde, incluindo: alucinações e paranóia, problemas respiratórios, e, possível dano ao cérebro de um feto em mulheres grávidas
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A quantidade de THC na maconha tem aumentado constantemente nas últimas décadas, criando mais efeitos nocivos em algumas pessoas.
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Não há relatos de adolescentes e adultos morrendo por usar maconha sozinho, mas o uso de maconha pode causar alguns efeitos colaterais muito desconfortáveis, como ansiedade e paranóia e, em casos raros, reações psicóticas extremas.
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O uso de maconha pode levar a um transtorno por uso de substâncias, que pode evoluir para um vício em casos graves.
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Atualmente, não há medicamentos disponíveis para tratar o transtorno por uso de maconha, mas o suporte comportamental pode ser eficaz.
Substâncias medicinais presentes na maconha
A planta contém produtos químicos - chamados canabinóides - que podem ser úteis para tratar algumas doenças ou sintomas. Aqui estão alguns canabinóides que foram aprovados para uso terapêutico em alguns países ou estão sendo testados como medicamentos:
THC e CBD: Um medicamento com uma combinação de THC e CBD está disponível em vários países como spray bucal para tratar a dor ou os sintomas da esclerose múltipla.
CBD: Outro produto químico na maconha com potenciais efeitos terapêuticos é chamado canabidiol, ou CBD. O CBD não tem efeitos que alteram a mente e está sendo estudado para seus possíveis usos como medicamento. Por exemplo, o óleo CBD foi aprovado como tratamento para convulsões em crianças com algumas formas graves de epilepsia.
THC: O canabinóide que pode deixá-lo “alto” – THC – tem algumas propriedades medicinais. Duas versões de THC feitas em laboratório, nabilona e dronabinolpodem ser usados para tratar náuseas, prevenir doenças e vômitos da quimioterapia em pacientes com câncer e aumentar o apetite em alguns pacientes com AIDS.
É importante lembrar que fumar maconha pode ter efeitos colaterais, dificultando seu uso como medicamento. Por exemplo, pode prejudicar a saúde pulmonar, prejudicar o julgamento e afetar a memória. Efeitos colaterais como esse podem superar seu valor como tratamento médico, especialmente para pessoas que não estão muito doentes. Outro problema em fumar ou comer material vegetal de maconha é que os ingredientes podem variar muito de planta para planta, por isso é difícil obter uma dose exata. Por esta razão, os produtos desenvolvidos e comercializados pela indústria farmacêutica são os únicos que podem ser utilizadas como medicamento, sempre sob prescriçao médica, de acordo com a legislação de cada país.
Fonte: Texto traduzido e adaptado do National Institute on Drug Abuse; National Institutes of Health; U.S. Department of Health and Human Services (Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas; Institutos Nacionais de Saúde; Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA).