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Como programas de prevenção são aplicados na vida real? Um exemplo do programa americano Keepin’ it


Por Júlia D Gusmões




Um dos grandes desafios da aplicação de programas escolares de prevenção é a qualidade de implementação, já que o programa é aplicado por várias pessoas que possuem diferentes qualificações, experiências e crenças. A qualidade desta aplicação do programa é medida quanto à fidelidade de implementação e possui alta relevância para que os resultados esperados dos programas sejam efetivamente alcançados.

Mesmo programas que seguem diretrizes internacionais e se mostram eficazes em determinadas regiões, podem sofrer alterações durante o processo de implementação. Um grande passo para a compreensão da fidelidade de implementação é saber o que é alterado no programa e por que essa alteração acontece.

Um grupo de pesquisadores buscou responder esses questionamentos sobre o programa Keepin’ it REAL em sua versão adaptada para os 7os anos da população rural de dois estados norte-americanos. Para isso, 25 escolas das áreas rurais da Pensilvânia e de Ohio foram randomizadas em três grupos: um grupo que recebeu a versão adaptada do programa, um grupo que recebeu a versão original (sem adaptação) e um grupo controle, que não recebeu a intervenção.

Trinta e um professores estavam envolvidos na aplicação do programa. Os professores passaram por um treinamento de 8 horas durante para aplicarem as versões do programa. Ao final de cada aula aplicada, eles preenchiam um formulário sobre o nível de completude da sessão, pontuando as alterações realizadas e o motivo de alteração. Também, os professores gravaram suas aulas, que foram mandadas para o grupo de pesquisadores, que sortearam e observaram algumas sessões, codificando as alterações Identificadas.

Após as análises, os pesquisadores encontraram contradições entre o que era preenchido pelos professores nos formulários de avaliação de fidelidade e o que foi observado nas gravações das aulas. Segundo os professores, 32% das sessões foram aplicadas em sua completude, enquanto, segundo as observações, apenas 2.5% das sessões foram aplicadas com total fidelidade. Foram encontrados 4 tipos de adaptações: 1) Cronograma de entrega (quando e como a sessão é aplicada); 2). Contexto de entrega (onde e por quem); 3) Adaptação de conteúdo; e 4) Alteração de formato ou de componente da sessão. As razões para as adaptações foram restrições (de tempo, institucionais e pessoais) e a capacidade de resposta dos alunos.

As conclusões desse estudo sugerem algumas saídas para que as necessidades de adaptação sejam minimizadas. As aulas poderiam ser programadas pelos desenvolvedores para acontecer em, no máximo, 30 minutos, podendo ser divididas em módulos de 10 minutos cada, possibilitando a aplicação dos módulos em horários mais flexíveis, acomodados na logística de aulas do professor. É de extrema importância que os professores saibam quais são os elementos-chave das aulas, ou seja, aqueles que não podem ser alterados ou excluídos, pois são os que levam ao efeito do programa. Isso precisa ser exposto, pois existe uma tendência de o professor excluir o que acha menos importante, mesmo que seja importante para o programa.

Também, é necessário que exista um maior foco no treinamento dos professores, com suporte ao longo do tempo e com um grande encorajamento para que a fidelidade de implementação seja considerada na aplicação do programa. Os professores treinados precisam saber da importância de se manter o conteúdo, formato e tempo de aplicação das atividades de cada sessão. Além disso, os autores sugerem que ocorra a recomendação de adaptações possíveis de serem realizadas, que abarquem diferentes tipos de professores com suas individualidades na gestão de sala de aula e na forma de ensinar e, também, que respondam ao nível de resposta dos alunos.

Assim, tendo em vista que as adaptações podem ser inovadoras, aumentando o engajamento dos alunos e melhorando o resultado do programa, é imprescindível que o contexto e motivos das adaptações sejam levados em conta na elaboração e aplicação de programas de prevenção. As investigações sobre a fidelidade de implementação dos programas podem trazer uma flexibilidade de adaptação segura, que contenha os elementos-chave do programa, garantindo bons resultados.


Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4539007/


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